China está disposta a
negociar sobretaxas a produtos do Brasil
Em entrevista, o embaixador Li Jinzhang disse que a
questão é técnica
Publicado
em 29/07/2018 - 08:00
Por José
Romildo - Repórter da Agência Brasil Brasília
As autoridades chinesas “têm toda
a vontade” de buscar com as autoridades brasileiras uma solução para
diminuir ou eliminar as sobretaxas a produtos brasileiros, como a carne
de frango e o açúcar, informou o embaixador da China no Brasil, Li
Jinzhang, em entrevista à Agência Brasil.
"Essa é uma questão técnica.
Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas
para encontrar uma solução adequada”, acrescentou.
A liberação das sobretaxas chinesas foi um dos assuntos tratados entre o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente chinês Xi Jinping durante a 10ª Cúpula do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), concluída nessa sexta-feira (27) em Joanesburgo (África do Sul).
A liberação das sobretaxas chinesas foi um dos assuntos tratados entre o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente chinês Xi Jinping durante a 10ª Cúpula do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), concluída nessa sexta-feira (27) em Joanesburgo (África do Sul).
O embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, disse que o país pode
negociar a liberação de sobretaxas aos produtos brasileiros - José
Cruz/ Agência Brasil
Li Jinzhang disse que o Brasil fez uma parceria estratégica com a China há muitos anos e que essa união “trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados”.
Veja a entrevista concedida à Agência Brasil pelo
embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang:
Agência Brasil:
Embaixador, com a posição norte-americana de sobretaxar a China, a soja
brasileira se valorizou na Bolsa de Chicago. O Brasil exporta sobretudo soja em
grão e o presidente Temer demonstrou ao presidente Xi Jinping, durante o
encontro entre eles, o desejo brasileiro de vender soja processada, como óleo e
farelo de soja. Ele disse que o presidente chinês recebeu bem a proposta. O
senhor acha que isso poderá ocorrer logo?
Li Jinzhang: Nos últimos nove anos consecutivos, a China se tornou o
maior parceiro comercial do Brasil e o Brasil é o maior parceiro comercial da
China na América Latina. Nos últimos três anos, o comércio dos produtos
agrícolas está aumentando bastante. A China já se tornou o maior destino das
exportações dos produtos agropecuários brasileiros, como por exemplo, a soja.
No ano passado, 50% de toda a importação de soja da China no mundo veio do
Brasil. O presidente Temer fez uma proposta de exportar mais óleo de soja.
Ambas as partes podem aprofundar essa discussão daqui para a frente. Vamos
discutir com base nos agronegócios. Acho que esse assunto tem um grande futuro.
Agência Brasil: Analistas econômicos de todo o mundo têm dito que as
relações comerciais entre China e Brasil vão se intensificar, a começar pela
soja. Em quais áreas isso se daria, além da agricultura?
Li Jinzhang: Produtos pecuários, como proteínas. No ano passado, a China importou mais de 570 mil toneladas de carne bovina. Em pouco tempo, a China se tornou um dos maiores destinos da carne bovina, através desses exemplos vocês percebem que há grande potencial de comércio de produtos agrícolas e pecuários.
Li Jinzhang: Produtos pecuários, como proteínas. No ano passado, a China importou mais de 570 mil toneladas de carne bovina. Em pouco tempo, a China se tornou um dos maiores destinos da carne bovina, através desses exemplos vocês percebem que há grande potencial de comércio de produtos agrícolas e pecuários.
Agência Brasil: O
presidente Michel Temer também pediu ao presidente Xi Jinping que libere as sobretaxas
em relação ao frango e ao açúcar brasileiro. O senhor avalia que essas
sobretaxas podem diminuir ou mesmo cair?
Li Jinzhang: A exportação do Brasil de certos produtos chegam à China com preços muito menores do que os do mercado chinês, chegando em determinados momentos a causar impacto na indústria correlacionada da China. Por causa disso, os produtores dessas indústrias solicitaram que o governo chinês, baseado em regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC), fizesse um levantamento desses produtos, de acordo com regras antidumping existentes. Com a ampliação muito rápida do nosso comércio, é normal surgirem esses problemas. É preciso que haja um processo de coordenação. É a mesma coisa de as empresas brasileiras pedirem para o governo brasileiro fazer antidumping contra alguns produtos chineses. Como países amigos e bons parceiros, e defensores do livre comércio, demonstraremos toda a vontade de sentar para negociar e procurar solução para esses problemas. Existe essa vontade amistosa, mas é uma questão técnica. Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas para encontrar uma solução adequada.
Agência Brasil: Além das trocas agrícolas, Temer relatou que também
foram tratadas na reunião dos Brics questões relacionadas às concessões e
privatizações no Brasil e os investimentos chineses em obras de infraestrutura
nas áreas de ferrovias, portos, aeroportos, linhas de transmissão e
distribuidoras de energia. Xi Jinping disse que pretende continuar a investir no
Brasil. Quais serão os próximos investimentos da China no Brasil?
Li Jinzhang: Sobre investimentos, ambas as partes já definiram as áreas prioritárias: energia, telecomunicações, infraestrutura, agricultura e ciência e tecnologia. A área de infraestrutura é a área mais importante de nossa cooperação. O governo brasileiro espera que as empresas chinesas aumentem investimentos nessa área. E o governo chinês também motivará as empresas chinesas a aprofundarem a cooperação nessas áreas. Na área de portos, temos obtido muitos resultados. Haverá muitos avanços na área de ferrovias, incluindo os transportes urbanos como o VLT (veículo leve sobre trilhos) e o metrô. Em Brasília, uma empresa chinesa já levou ao governo local seu interesse no VLT.
Li Jinzhang: Sobre investimentos, ambas as partes já definiram as áreas prioritárias: energia, telecomunicações, infraestrutura, agricultura e ciência e tecnologia. A área de infraestrutura é a área mais importante de nossa cooperação. O governo brasileiro espera que as empresas chinesas aumentem investimentos nessa área. E o governo chinês também motivará as empresas chinesas a aprofundarem a cooperação nessas áreas. Na área de portos, temos obtido muitos resultados. Haverá muitos avanços na área de ferrovias, incluindo os transportes urbanos como o VLT (veículo leve sobre trilhos) e o metrô. Em Brasília, uma empresa chinesa já levou ao governo local seu interesse no VLT.
Agência Brasil: Temer tratou ainda com Xi Jinping do
estabelecimento da sede do Escritório Regional da Américas, do Novo Banco de
Desenvolvimento do Brics, em São Paulo, com escritório em Brasília. Qual a
importância disso para o comércio entre as duas nações?
Li Jinzhang: Essa é uma boa notícia. O novo Banco de Desenvolvimento dos Brics nasceu em Fortaleza. Após muitos anos de preparação e funcionamento, ele tem obtido muito sucesso. A instalação da sede em São Paulo e escritório em Brasília vai estimular maior cooperação entre os países do Brics e com os países da América do Sul. O mais importante é a cooperação na área de investimentos. Com certeza, vai estimular também a cooperação comercial.
Li Jinzhang: Essa é uma boa notícia. O novo Banco de Desenvolvimento dos Brics nasceu em Fortaleza. Após muitos anos de preparação e funcionamento, ele tem obtido muito sucesso. A instalação da sede em São Paulo e escritório em Brasília vai estimular maior cooperação entre os países do Brics e com os países da América do Sul. O mais importante é a cooperação na área de investimentos. Com certeza, vai estimular também a cooperação comercial.
Agência Brasil: Houve
grande convergência na reunião do Brics sobre a importância de o bloco
prestigiar um sistema multilateral de comércio baseado em regras, com a OMC à
frente. A posição da China foi referendada pelos países que compõem o Brics. O
presidente Xi Jinping pediu na abertura da cúpula que os Brics "rejeitem o
unilateralismo" presente hoje no mundo. É este o caminho? Como
enfrentar os acordos bilaterais anunciados entre EUA e União Europeia?
Li Jinzhang: Nessa cúpula, os países do Brics usaram voz conjunta para salvaguardar o comércio multilateral e continuar a apoiar a liberação do comércio e do investimento. Isso é muito importante em face do cenário internacional atual. Sobre o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia, esperamos que todas as medidas tomadas se baseiem no mecanismo multilateral. Sobre esse acordo, acho que estamos só no início. Precisamos ainda observar.
Li Jinzhang: Nessa cúpula, os países do Brics usaram voz conjunta para salvaguardar o comércio multilateral e continuar a apoiar a liberação do comércio e do investimento. Isso é muito importante em face do cenário internacional atual. Sobre o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia, esperamos que todas as medidas tomadas se baseiem no mecanismo multilateral. Sobre esse acordo, acho que estamos só no início. Precisamos ainda observar.
Agência Brasil: Qual a sua mensagem em termos da parceria da China e do Brasil no mundo?
Li Jinzhang: A China e o Brasil são os maiores países nos
hemisférios Ocidental e Oriental, que há muitos anos estabeleceram parcerias
estratégicas. E agora estão realizando parceria global. A cooperação
amigável trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e
para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados. Ao mesmo tempo, são
dois países de mercados emergentes e membros do Brics. Nos assuntos
internacionais, sempre temos posições iguais ou semelhantes. Temos aspirações
comuns. E somos parceiros nos assuntos internacionais. Espero que os dois
países possam como sempre elevar a cooperação amistosa para um novo
patamar.
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Edição: Carolina
Pimentel